ESTEIROS
de
Soeiro Pereira Gomes
Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais, que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de lama que só o rio afaga.
Esteiros é a história contada da realidade de muitos que sobreviveram e pereceram aos Esteiros do rio e à constante agressão de uma sociedade sem dó e com uma autoridade senhorial.
(...) A manhã é ainda um pressentimento, mas já no quartel o despertador anunciara o dia. Os valadores deixaram a tarimba, que não acalenta fadigas; tactearam as pás, ao canto; e, depois de enganarem as bocas com naco de pão mais duro que a tarimba, meteram-se ao esteiro.
- Vamos a isto antes que a maré suba.
- Vamos a isto antes que a maré suba.
As pernas resvalaram no lodo até aos joelhos, e a humidade arrepiou-as.(...)
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