sexta-feira, 26 de março de 2021

  Testemunhos de leitura

Se eu ficar - Gayle Forman


Vanessa Silva

Há quem diga que é preciso um bilhete de avião para conhecer o mundo, e de facto é extraordinário aquilo que os olhos vêm. O que nos suscita um certo sentimento de satisfação ao conhecer o incerto. Na verdade, somos constantemente cegados pelo aparente sem consultarmos verdadeiramente a nossa caixinha de pensamentos. É vazio, aquele que se ilude pelo visível e não possui o prazer de crescer, a ler. A leitura eleva o conhecimento da cultura individual auxiliando a maneira de como interpretamos o mundo dos outros. A simplicidade de um pequeno livro, complexificasse pelo seu conteúdo enriquecedor. Ler é uma forma de criarmos o nosso próprio mundo perfeito, afeiçoados a uma bonita história de amor. Ler é a aceitação da efemeridade da vida e de que ela não foi feita para nos fazer sorrir, mas sim para nos ensinar como sorrir. Ler é aprender a lidar com a nossa versão mais ambígua. Tantas histórias repletas de ensinamentos, que têm a capacidade de nos proporcionar uma visão mais lúcida da maneira como devemos, ou não, agir. Não gostava de livros. Tantas palavras, tantas frases, tantas páginas completamente desnecessárias, enfim uma perda de tempo. A realidade é que nunca fui capaz de acabar um livro sem me aborrecer a meio do mesmo, era um sacrifício ler algo que não fosse as legendas de uma serie ou filme. Algo mudou. Um livro que me consumiu de uma forma inexplicável, que se manifestou na forma como passei a olhar para a vida. “E se eu ficar” é o livro da minha vida. Uma história eminentemente trágica envolvida por um amor improvável. Obrigou-me a refletir sobre o verdadeiro significado da vida e o valor que, por vezes, não damos a quem nos é mais próximo. Nada é garantido e nada nos pertence por direito neste mundo. Olhamos para aqueles que nos amam como se eles nunca mais nos deixassem e por isso transparecemos um certo egoísmo. Sobrepomos o material e os prazeres momentâneos ao real sentimento, e às pessoas que nos dão o equilíbrio fundamental para vencer cada controvérsia. A perda de alguém limita-nos à nossa insignificância e transparência neste submundo de emoções. Perdemos a nossa essência e força para nos manter firmes neste campo de batalha. Somos eternos enquanto formos memória, e o amor verdadeiro enaltece a sua perpetuidade quando convertidos ao nada. A grande questão que fiz a mim mesma no final deste livro prolonga-se até hoje, e marca patentemente todos os dias cinzentos vividos- “Afinal qual é realmente o meu papel nesta breve passagem que é a vida?”. Foi este o livro que me preparou para certos momentos inesperados, que me impulsionou a tirar a venda e mudar a direção do meu caminho. Somos vivos enquanto alguém nos ama e permanecemos inconscientes até que algo trágico mova o nosso rumo.

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